segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Fundamentalismos

Manuel Monteiro de Castro é um dos 22 novos cardeais aos quais Bento XVI entregou os anéis e os barretes cardinalícios. O Clérigo não se tem poupado em entrevistas a defender as suas ideias de sociedade, como por exemplo as entrevistas que deu ao Correio da Manhã e ao Jornal de Noticias. Nestas assistimos ao regresso do velho pensamento retrograda da Igreja, que em vez de se preocupar com o fenómeno da violência doméstica, uma chaga nacional, vem atirar “mais achas para a fogueira”, que cada vez queima mais e da qual a Igreja também sai chamuscada.

Nestas entrevistas Monteiro de Castro afirma: “A mulher deve poder ficar em casa, ou, se trabalhar fora, num horário reduzido, de maneira que possa aplicar-se naquilo em que a sua função é essencial, que é a educação dos filhos”. “O trabalho da mulher a tempo completo, creio que não é útil ao país. Trabalhar em casa sim, mas que tenham de trabalhar de manhã até à noite, creio que para um país é negativo”. “A mulher perdeu muito do valor que tinha”. “Mas se a mãe tem de trabalhar pela manhã e pela noite e depois chega a casa e o marido quer falar com ela e não tem com quem falar…”. Apesar de citações estas reflectem a linha de pensamento seguida.

Opiniões deste jaez vindas de um cardeal, é caso e motivo de forte preocupação, uma vez que envolve no seu todo a instituição Igreja. Depois de tantos anos a lutar pela emancipação e autonomia da mulher, eis que nos deparamos com este pensamento que representa um retrocesso civilizacional, por defender um papel escravizante e de dependência face ao homem. Não faltará muito para que se assista novamente nas cerimónias matrimoniais aos votos de obediência da mulher em relação ao homem e à glorificação do fim único da procriação como propósito do casamento e da vida da mulher. O sucesso da batalha à violência doméstica é directamente proporcional à emancipação e autonomia da mulher.

3 comentários:

Padre Paulo Silva disse...

Saudações
Fiquei espantado com o teor do texto do prof. Jorge Jorge.
Gostaria de deixar aqui expresso aquilo em que penso não estar certo no escrito.
tenho dificuldade em associar a foto à problemática em causa como se a opinião do cardeal fosse uma manifestação fratricida e muito menos a proclamação dum dogma.
O que diz um membro da Igreja, não é a doutrina da Igreja, regemo-nos pelo Magistério Oficial e segundo sei não esse o pensar e práxis da Igreja.
D. Manuel não feriu a autonomia e emancipação da mulher, chamou a atenção para um forma diferente de estar, aliás muitos casais optaram por um deles ficar em casa para cuidar da educação dos filhos, espero que não os considere uns trairas.
A mulher ainda continua a ser a que melhor está preparada para trasmitir os melhores valores aos filhos, faz parte do seu sentido maternal, isto é da biologia e da cultura que ainda não foi aniquilada. A violencia domestica não terminou quando a mulher começou a ter o seu emprego, combater este flagelo é uma questão de educação e de valores que se trazem do berço.
A opinião em causa não é suficiente para tirar a vivencia do amor como primasia na relação matrimonial, hoje seria impensavel outra opinião eclesial que não seja o amor como o fundamento do sacramento em causa que tem na procriação uma das suas manifestações.
o meu comentário não tem a função de ofender, mas mostrar a minha indignação pela leitura incorreta feita de algumas partes duma entrevista e mais grave ter-se tomado a parte pelo todo.
Um braço de amizade de Padre Paulo Silva

JVB disse...

Excelente artigo, li a entrevista do dito cardeal e tambem senti repulsa pels suas ideias.

Anónimo disse...

Primeiro deixo ficar o registo da excelência que atribuo ao artigo do prof. Jorge, neste e outros que tem levado ao jornal O Dever. Espero que continue a fazê-lo com regularidade.
Devo também dizer que aqui comento opiniões, não pessoas, embora seja difícil dissociar as duas coisas.
É interessante que se queira afastar o escrito do Cardeal, ou as suas consequências, da Igreja, seria perfeitamente infantil pensar que tal possa acontecer. Far-me-ia lembrar as crianças, quando dizem " O que foi? O que foi que eu fiz? Não tenho culpa!" Quando alguém, com o título de Cardeal, atribuido pela Igreja, escreve e assina como CARDEAL, não se pode querer que a Igreja nada tenha a ver. Por outro lado, e aqui refiro-me ao comentário do Pde. Paulo, todos nós sabemos ler, e interpretar, não é qualidade reservada a alguns iluminados. O Cardeal disse o que queria dizer, se alguns, da Igreja não partilham, que não venham dizer que só se é Cardeal, ou Pde, ou Bispo de quando em quando. Numa sociedade que se diz cada vez mais falhada de valores, os escritos de alguns, com títulos tão elevados, não podem assumir o significado de conversa de café.
Por outro lado lamento que pessoas com responsabilidades como as do Pde. Paulo propague a ideia que a mulher" é a melhor preparada para transmitir valores aos filhos", no minimo mereceria a indignação dos pais. Lá está são opiniões, sexistas, sem dúvida, que tantos danos tem causado à sociedade.
Este tempo é o tempo de mudança, de andar para a frente, não para trás. Não se queixe a Igreja, e os seus representantes, padres, bispos, cardeais, das perdas que tem sofrido, são estas opiniões anacrónicas, que se deveriam guardar na "ministra", só para nós até que possamos evoluir para outro patamar, que promova a igualdade de género, que perceba que o coração do homem é igual ao da mulher, um coração de pai faz tanta falta a um filho como um coração de mãe, esta é que deveria ser a grande mudança, esta é que deveria ser a luta da igreja, através dos seus homens. Não o contrário! Não me admira por isso o primeiro parágrafo do comentário do Pde. Paulo.

Uma cidadã lajense.


Uma

Locations of visitors to this page