sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Ouvir para aprender

“ C e s s a o t e u c a n t o !
C e s s a , q u e , e n q u a n t o
O o u v i , o u v i a
U m a o u t r a v o z
C o m q u e v i n d o
N o s i n t e r s t í c i o s
D o b r a n d o e n c a n t o
C o m o q u e t e u c a n t o
Vi n h a a t é n ó s
O u v i - t e e o u v i - a
No mesmo tempo
E d i f e r e n t e s
J u n t a s c a n t a r
E a m e l o d i a
Q u e n ã o h a v i a
S e a g o r a a l e m b r o ,
F a z - m e c h o r a r ”

A filosofia ocidental é obcecada pela questão do ser. A oriental, pela questãodo vazio, do nada. É no vazio da jarra que se colocam flores. De todos os sentidos, o mais importante para a aprendizagem do amor da vida em conjunto e da cidadania é a audição.
Só posso ouvir a palavra se meus ruídos interiores forem silenciados. Só posso ouvir a verdade do outro se eu parar de tagarelar. Quem fala muito não ouve. Sabem disso os poetas, esses seres de fala mínima. Eles falam, sim, para ouvir as vozes do silêncio. Veja o poema de Fernando Pessoa, dirigido a um poeta. A magia do poema está nos interstícios silenciosos que há entre as suas palavras. É nesse silêncio que se ouve a melodia que não havia. Aí a magia acontece: a melodia me faz chorar.
Rubem Alves

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