domingo, janeiro 07, 2007

Onde vamos parar?

(…)Daqui a uns anos, inclusive, o mundo estará cheio de nostálgicos da liberdade. Gente que terá saudade do tempo em que podia festejar o Natal sem ser acusada de estar a insultar os muçulmanos e os ateus; gente que podia publicar cartoons e rir dos outros - que é uma actividade meritória. Haverá nostálgicos do tempo em que podiam fumar um cigarro ou um charuto(…) Francisco José Viegas
Na Europa este ano a celebração do Natal teve alguns contornos pouco edificantes para uma civilização que se supunha aberta, tolerante e evoluída.
Os acontecimentos abaixo transcritos são a prova de que esta Europa sem líderes fortes, quer a nível da União Europeia quer a nível dos países, encontra-se medrosa e agachada, em nome de uma pretensa respeitabilidade que mais não fará do que tornar este continente cada vez mais exposto e frágil.
Na Itália os responsáveis de alguns jardins infantis proibiram as canções de Natal para não ofender os não-cristãos; na Inglaterra algumas empresas não colocaram decorações de Natal para não ofender os não-cristãos; no mesmo país, uma Câmara Municipal proibiu o termo Christmas (por óbvias conotações com Cristo) e trocou-o por Winterval (intervalo de Inverno) e as entidades oficiais obrigaram a que não se usasse o feliz Natal ou Bom Natal nas saudações institucionais, trocando-o pelo boas festas; em Mijas, Málaga, Espanha, uma professora deitou fora um presépio feito pelos alunos na aula de Religião, porque uma escola pública, na sua opinião, tem de ser laica.
Também em Portugal são conhecidos alguns episódios curiosos: numa escola EB1 a professora, interferindo numa área que apenas aos pais diz respeito, disse aos alunos que o “Menino Jesus e do Pai Natal eram parvoíces”, desfazendo as ilusões dos miúdos sobre a noite de Natal.
Depois da reacção aos cartons sobre Maomé, do cancelamento de uma ópera de Mozart em Berlim por alegadamente poder ofender os muçulmanos, a censura à liberdade de expressão do Ocidente atingiu a celebração do nascimento de Jesus.
Nunca é demais recordar que a liberdade de expressão é um valor de exercício frágil, que sempre, através dos tempos corre permanente risco de ser cerceada, limitada ou mesmo suprimida.
Não só em regimes totalitários. Também em democracias. Não só por tiranos, fundamentalistas ou inimigos da liberdade em geral. Também por quem pretende condescender com os inimigos da liberdade.

Bom Ano de 2007

Publicado no DEVER em 4/01/2007

1 comentário:

JAJ disse...

Por lapso apaguei um comentário que referia que não tinha citado convenientemente as fontes deste texto. Penso que estão mencionadas "FJV"

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